Numa nação que celebra uma derrota bélica como um dos seus principais feriados e que batiza uma piscina pública com o nome de um primeiro-ministro que se afogou, não surpreende que os malfadados Robert O’Hara Burke e William Wills tenham se tornado heróis na Austrália.
Em agosto de 1860, com grande estardalhaço, Burke, tendo Wills como imediato, partiu de Melbourne à frente de uma expedição que planejava se tornar a primeira a cruzar o continente australiano.
Escolhido por uma comissão da Real Sociedade de Victoria, Burke não era nem explorador nem topógrafo, jamais havia comandado uma expedição de qualquer tipo e era considerado, no mínimo, um péssimo mateiro.
Para piorar ignorou os conselhos de exploradores anteriores para recrutar guias aborígenes.
Eles estabeleceram uma base junto ao rio Cooper Creek, e então Burke, Wills e dois outros saíram rumo ao golfo de Carpentária, dispondo-se, no auge do verão, a caminhar 1.100 km pela Austrália central até o mar.
É revelador da perseverança deles que, em 11 de fevereiro de 1861, tenham chegado lá, alcançando manguezais que os impediam de ver o golfo. O Acampamento 119 foi o mais setentrional deles e ainda pode ser visitado.
A corrida para voltar ao sul se tornou uma gincana de vida ou morte. Quando eles chegaram à base do Cooper Creek, descobriram com perplexidade que seus homens haviam recuado horas antes para Menindee.
A famosa Dig Tree (“árvore do escavar”) ainda está à margem do rio, com a seguinte frase entalhada: “DIG 3FT N.W. APR. 21 1861” — “escavar três pés [cerca de um metro] a noroeste — 21/4/1861”.
Os mantimentos enterrados não foram suficientes para os exploradores; esgotados, os chefes da expedição morreram às margens desse oásis, mas um membro do grupo, John King, foi resgatado.
Burke e Wills deixaram como legado uma lenda tão grandiosa quanto o próprio outback australiano.
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